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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


13 de set. de 2010

Índios no cinema

Quando era criança vivia com uma turma da vizinhança, todos filhos de operários. Como meu pai era Sargento da PM considero-me, também, filho de operário. Em toda boa turma que se preze, os menores sempre ouvem os mais velhos, na minha era assim, e eu era dos mais novos.

Durante as reuniões os assuntos eram os mais variados possíveis. Como naqueles idos a televisão estava começando a invadir os lares, volta e meia o assunto girava em torno de algo que aparecera na TV. Os filmes, os filmes eram o grande assunto, temas das mais acaloradas discussões.

Lembro de uma vez em que um dos colegas, dos mais velhos, disse que nos Estados Unidos haviam reservas em que eram criados índios e que estes índios eram depois mortos nos filmes. A comoção foi geral. Ninguém queria acreditar, não podia ser.

Quer dizer que aqueles índios que víamos serem mortos as centenas em cada filme, desde Rin Tim Tim até o General Custer foram mortos de verdade? Meu amigo jurava, de pés junto, que sim.

Alguns, mais expertos, não se convenceram. Não era verdade. Aquilo tudo era “de faz de conta”. Coitados, foram vítimas do escárnio infame de meu amigo.

A conversa ficou acalorada e quase terminou em briga. Ao final saímos todos convencidos de que sim, nos Estados Unidos criavam-se índios para serem mortos no cinema e ponto final.

Só sei que nos dias seguintes ao assistir filmes de Velho Oeste, me dava uma dó, que beirava o desespero, só de saber que aquele monte de índios tinha sido morto de verdade.
Mais tarde veio o alívio, quando soube que era mentirinha de cinema, que os índios não eram mortos nos filmes. Que alegria!

Bem depois, já adolescente, é que fui tomar conhecimento da matança impetrada pelos colonizadores brancos contra os povos indígenas nas terras do Tio Sam.

Agora, entendo que meu amigo, mesmo em sua ingenuidade, estava coberto de razão. É, devemos sempre prestar atenção ao que os mais velhos têm a nos dizer, a verdade pode ser cruel.

Paulo Roberto Bornhofen