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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


1 de set. de 2008

As tentações da boa mesa

Na nossa região, quando o frio vai chegando, é dada como por aberta a temporada de feijoada. Os restaurantes disputam os amantes de bom feijão com outdoors espalhados pela cidade. São promoções e promoções. Clubes se organizam para confraternizarem seus associados em torno de uma bela e farta feijoada. Muitas entidades assistenciais promovem as suas para levantar fundos destinados a suas obras sociais. Estas últimas são bastante interessantes. Mesmo sendo “feijoadas assistenciais” a qualidade é de primeira e a gente sempre encontra muitos conhecidos e um grande número de desconhecidos.

Dia destes eu fui com um amigo a uma delas. Como minha esposa não pode ir, fomos os dois um pouco mais cedo e a esposa dele deixou para ir mais tarde. Quando chegamos, pouco depois das 1100 Hs havia pouca gente. A equipe que estava encarregada era quase toda nossa conhecida. Fizemos uma ronda para cumprimentar a todos, o pessoal da cozinha, do bar e do “caldinho”.

Resolvemos começar pelo caldinho, um pouco de vodka no fundo da caneca de barro, que logo foi coberto pelo caldo de feijão. É uma delicia, um verdadeiro néctar, mas tem que saber dosar a vodka. Como erramos a mão da primeira vez, tivemos que repetir e assim conseguimos acertar. Depois veio aquela caipirinha, pois toda feijoada que se preze tem que ter por companhia uma brasileiríssima caipirinha. Agora já haviam mais convivas e o clima estava começando a ficar bom.

Não sei porque mais os homens bem casados, como eu e meu amigo, quando estão sozinhos, ficam como aquele cachorro que passa a vida toda preso a coleira e quando é solto corre, corre, corre e não sabe o que fazer com a liberdade. Não pode abusar, muito menos fazer besteira, pois sabe que a coleira o esta esperando. Para ser bem sincero, ninguém foi com a intenção de fazer bobagens, e não fizemos. Mas acontece que não eram apenas nós que estávamos sós. De repente havia um monte de mulheres desacompanhadas.

Como não tínhamos muito o que fazer, começamos a observar o público feminino, que era de muito boa qualidade. De repente veio em nossa direção uma bela mulher, usando um jeans bem justo, demarcando o que pode facilmente ser classificado com um corpão. Harmonizando o conjunto, uma blusa branca, do tipo camisa masculina. Não era nenhuma jovem, talvez por isto seu belo corpo chamava atenção. Veio e passou direto, indo sentar-se a mesa ao nosso lado. Discretamente pude observar que havia um casal de idade já avançada, talvez os pais, e um garotinho, grande possibilidade de ser o filho. Mas a mulher era bem dotada. Era só ela que se levantava para buscar bebidas e outras coisas, e como levantava e se movimentava. Sempre passando pela nossa mesa. Não tínhamos como não olhar.

O sacrifício era imenso. Não era porque estávamos desacompanhados que iríamos tomar certas liberdades e fazer um papel um tanto quanto ridículo. Mas não tinha como evitar. Volta e meia e lá estava ela. Hora de pé, hora debruçada por sobre a mesa, e de costas para nós, naquela posição altamente comprometedora. Dá para imaginar o tamanho do sofrimento. A situação era tão surreal que já estava se tornando cômica.

Logo a feijoada foi servida e a loira e seus acompanhantes foram se servir. Para variar passaram por nossa mesa. Para minha surpresa - a senhora, que imagino ser a mãe - ao passar por nós, sorriu. Bateu o desespero. Teríamos sido descoberto?. Como nossa intenção não ia alem do olhar, tudo bem. Não tinha problema algum. Mas aquele sorriso enigmático, daquela senhora, me fez pensar. Estaria ela rindo para dizer: podem olhar, é bonita mesmo, fui eu quem fiz. Ou estaria ela dando um sinal de aprovação para que nos aproximássemos daquele monumento. Não sei. A dúvida será eterna. Mas, o mais provável é que ela apenas estava sendo simpática. A única certeza que ficou, é que aquela foi uma das mais deliciosas refeições que eu já tive a oportunidade de saborear.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta
2004

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