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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


6 de mai. de 2009

Histórias de um mundo assombrado – Parte II - O fracasso

Eu tenho um amigo que vive me surpreendendo com as histórias que aconteceram na aldeia dele. O que mais me surpreende é que todas as histórias que ele conta são verdadeiras e pela tradição da aldeia elas devem ser passadas oralmente. Eles não têm o hábito de escrever estas maravilhas. Como eu não faço parte da aldeia dele eu ponho no papel o que ele vai me contando.

Disse ele que certa vez o mandatário máximo do povo dele enviou para a sua aldeia um representante. Este representante deveria ser como a presença viva do mandatário e para tanto deveria trabalhar pelo bem de toda a comunidade. Isso é o que deveria ter acontecido, mas não foi o que aconteceu. Ao contrário, o representante enfiou os pés pelas mãos, como nós costumamos dizer, e teve que deixar a aldeia no meio da noite, com o rabinho entre as pernas.

Tão logo chegou à aldeia, o representante reuniu o conselho dos líderes e já foi mandando o recado. Disse que estava ali por outros caminhos e negou que o mandatário máximo o tivesse enviado. Chegou a zombar do mandatário, dizendo que se dependesse dele, do mandatário, o representante seria outro. Foi mais longe, disse que estava lançando suas bases e que queria fixar seus domínios por ali.

Aos poucos ele foi isolando os integrantes do conselho de lideres e foi chamando gente nova, gente que deveria ir, lentamente, tirando a liderança dos integrantes do conselho de líderes. Em outra frente, começou a fazer favores pessoais usando a estrutura da aldeia. Queria agradar algumas pessoas para conseguir apoio para suas ambições.

Em pouco tempo, devido a sua pratica abusiva e as suas ações funestas o tal do representante já havia angariado uma antipatia geral. Seu plano de fixar seus domínios na aldeia começou a fazer água. Ele foi ficando isolado. Alguns aldeões conseguiram perceber que ele estava corrompendo toda uma estrutura que já vinha funcionando. Tudo em proveito particular.

Não demorou muito para que começassem a eclodir manifestações de inconformismo e até mesmo de revolta com o tal do representante. A situação rapidamente foi se deteriorando e ele foi sendo cada vez mais isolado. Não demorou muito para ele notar que seu plano havia fracassado. Seu isolamento era quase total. Até aqueles que ele havia chamado como sendo “gente nova” ao verem no que haviam se metido, começaram a negar a sua liderança e a fazer criticas ao seu modo de agir.

Ele não tinha mais clima entre os aldeões. O mandatário máximo de seu povo relutu em remover aquela figura incomoda da aldeia. A situação estava ficando insustentável com alguns integrantes do conselho de líderes exigindo a sua remoção imediata.

Até que um belo dia ninguém mais soube noticias suas. Silencio, era só que se ouvia. Nenhuma informação, nada. O seu paradeiro era desconhecido. Assim foi por alguns dias, até que noticias chegadas deram conta de que o representante do mandatário não representava mais nada. Tinha pedido para sair. Foi direto ao mandatário máximo e apresentou sua renuncia. Nem para dizer adeus ele deu as caras na aldeia.

Corre a boca pequena que em um determinado dia ele furtivamente voltou à aldeia e durante a noite fez uma, muito reservada, despedida. Não tinha muitos aldeões para convidar. Os que foram não gostavam de comentar sobre a despedida. Alguns ficavam até constrangidos. Assim foi que a aldeia conseguiu se livrar daquela figura incomoda. Ele, o representante, teve uma saída melancólica que até hoje é contada de geração em geração para que os mais jovens não se esqueçam de um famoso ditado popular, da aldeia dele, que diz que depois da soberba vem o fracasso.


Paulo Roberto Bornhofen
06/05/2009.