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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


3 de set. de 2008

Trilogia de uma noitada - Parte I - Molecada

Dias desses marquei com umas colegas do mestrado para um chope. Cheguei ao local combinado um pouco mais cedo e me instalei no balcão. Eu adoro os balcões, sempre que posso me acomodo em um deles, na verdade é o local que mais aprecio nesses ambientes.

O balcão é interessante não porque a gente fica com a cara enfiada pra dentro olhando um monte de garrafas arrumadas nos mais diversos tipos de prateleira, mas com o sempre presente fundo de espelho. Seria um desperdício dedicar tempo a isso. O balcão é bom porque a gente pode observar o ambiente, observar as pessoas. Verificar os casais, uns felizes trocando caricias, outros, ainda relutantes iniciando os primeiros contatos físicos, mergulhando nos intrigantes jogos da sedução. Tem aqueles que saem em duplas, amigos e amigas que estão à caça. Tem os solitários, aqueles seres que se sentam só e ficam em sua profunda melancolia se entregando a um copo ou a um cigarro, ou quando não a ambos. Como é triste, melancólico, até mesmo deprimente o comportamento desses solitários. Com o passar das horas o quadro vai se agravando com alguns solitarios perigosamente seguindo a trilha que os conduz rumo ao ridículo, com grandes chances de enveredarem ao vexame. O interessante é que esse é um comportamento tipicamente masculino. É o macho querendo chamar a atenção das fêmeas, assim como na natureza faz o pavão macho com seu esplendoroso rabo multicolor , e machos de muitas outras espécies. No bar o álcool se encarrega de emprestar o “rabo do pavão” para alguns.

Mas tem um grupo que também chama a atenção, e é grupo mesmo, são os homens de meia idade, e até um pouco mais da meia idade, que se reúnem em volta de uma mesa, para saborearem uma boa bebida e contarem vantagem uns aos outros. Quando possível ainda trocam olhares luxuriosos, libidinosos mesmo com alguma representante do sexo feminino, o que irá alimentar o seu ego por um bom tempo. Não apenas o ego será alimentado, mas é conversa garantida para os próximos encontros, para as próximas rodadas, mesmo que os olhares por parte das mulheres não tenham lá sido tão insidiosos assim. Por serem vários machos e cada um querendo chamar a atenção para si fica fácil entender que essas mesas geralmente são barulhentas. Imaginem só se fosse uma mesa de pavões macho, a loucura que seria com tantos rabos coloridos se agitando. E, havia uma mesa dessas lá na choperia e eu os observei um pouco. A conversa era bem interessante e não convém reproduzi-la aqui, mas para entenderem, basta saber que em determinado momento um dos integrantes perguntou se alguém tinha experimentado a costela de porco que certo fulano tinha preparado, ao que foi rapidamente corrigido por outro: “não é costela de porco, é costela de suíno, não se fala mais porco!”. Isso é que nível cultural pensei eu.

Logo em seguida se aproximou da mesa um grupo de jovens, daqueles recém saídos da adolescência e cumprimentaram o grupo. No meio dos cumprimentos, veio a sentença – Lugar da molecada é lá em cima – e apontaram para andar superior, onde funcionava outro espaço da casa. Até então não havia notado a movimentação do piso superior e para minha surpresa havia uma meninada, um povo jovem, com muitas belas meninas se divertindo. E eu ali, sentado em um balcão, cercado de tios. Que grande momento deprimente, esse. Ainda bem que logo fui salvo por minhas colegas que chegaram passaram a me fazer companhia.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

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