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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


25 de out. de 2008

Poemas de Fritz Müller – História Natural de Sonhos


Fritz Müller é o patrono da cadeira que ocupo na Academia de Letras Blumenauense, o que me leva a ter uma relação muito especial com está interessante figura. Home sensível de rude aparência. Um poeta em meio à natureza como mostram algumas de suas fotos.

O livro Poemas de Fritz Müller, que tem como subtítulo História Natural de Sonhos, cujos poemas foram traduzidos por Lia Carmem Puff e Dennis Radünz (Nauemblu; 56 páginas), veio-me às mãos quando adquiri umas obras do Guido Heuer, cuja temática era inspirada na natureza e o livro fazia parte do conjunto. Idéia fantástica esta de associar os quadros com o livro. O livro já atrai pela beleza da capa, que lembra alguns livros infantis da minha infância. Estas gravuras vão se reproduzindo ao longo do livro em harmonia com a temática de cada poema. Este é um dos aspectos. O outro é a beleza dos poemas que revela um Frits Müller sensível, observador, não apenas um estudioso da natureza, mas um apaixonado, um amante.

Mas nem por isso, ou talvez seja por causa disso, que ele apresenta na forma de poema alguns dos dramas que diariamente se revelam na natureza e que dizem respeito à sobrevivência. Sobrevivência que para uns significa a morte dos outros. Caso do poema do Pica-Pau quando o autor usa o todo o poema para descrever de forma encantadora as atividades desta belo pássaro. Apenas no último verso é que o belo pássaro é apresentado como o devorador, àquele que põem fim a vida do infeliz verme que tinha o tronco como morada protetora.

A morte acompanha grande parte dos poemas que são apresentados no livro. Mas não é a morte covarde, gratuita que se vê em nosso meio. É a morte natural, é a transformação, o transcurso regular das coisas da vida. A cadeia alimentar se manifestando. E ele, um naturalista, observador por obrigação retrata estes dramas com verdadeira sutileza.

Os poemas em que o homem se faz presente, ai sim encontramos crueldade. O homem é cruel quando monta uma armadilha e mata a solitária paca. O homem é exterminador quando dizima com veneno e fogo o formigueiro em que habitam trabalhadores formigas. Finalizando as atrocidades humanas o poeta nos apresenta a figura de um menino que ilude uma faminta gaivota que de forma bárbara vê o fim de sua vida chegar através de um anzol preso em sua garganta. Pobre gaivota.

Mas o poeta faz a natureza revidar na astúcia de uma tartaruga que quando esta para padecer sob o golpe fulminante de um remo consegue fugir através das águas do rio, deixando para trás seu irado algoz.

O que se esperar de um naturalista poeta? Talvez isto, que ele com sua sensibilidade consiga apresentar de forma natural os dramas que são da natureza e já naquele tempo fazer um alerta sobre o comportamento do homem com relação à natureza.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta