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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


4 de set. de 2008

Tropa de Elite – Tráfico de Drogas e Direitos Autorais

Assisti recentemente um debate entre o Diretor do filme Tropa de Elite e alguns jornalistas. Um papo do tipo cabeça, que envolvia discussões sobre doutrinas totalitárias, citações de autores famosos, muita filosofia e outras coisas do tipo "eu-sou-da-elite-intelectual". Bem daquele tipo que se emprega quando queremos ficar distante da grande massa, do povão, daqueles que não dominam esse tipo de vocabulário. Os jornalistas se esforçavam para imprimir um viés cultural ao debate. O diretor, por sua vez, reforçava a posição do grupo e se mostrou muito bem articulado, fazendo várias citações a conhecidos "medalhões" nacionais que escrevem sobre a segurança pública.

Uma bem urdida tentativa de transformar em debate cultural um simples filme comercial. Digo simples no sentido de ser comercial, igual a qualquer outro, sem entrar em detalhes técnicos sobre roteiro, luz, movimento de câmera, cenografia, desempenhos dos atores e outros detalhes da mesma linha. Mas, chamou-me a atenção o fato de que os ditos "medalhões" citados eram sempre os mesmos. Ou seja, o universo acadêmico utilizado pelo diretor orbitava em não mais que duas ou três "estrelas".
Em dado momento pareceu-me aquelas discussões intelectualoides sobre o ciclo de cinema cultural sueco. Não tenho nada contra os suecos, ou contra o cinema cultural, ou ainda contra um tal ciclo de cinema cultural sueco, se é que ele algum dia existiu, mas é que isso tipo de debate não interessava a ninguém, somente aqueles que queiram se passar por intelectuais. No meio acadêmico aprendemos que em um debate devemos recorrer aos chamados amigos, que são na verdade pesquisadores que se notabilizaram através de pesquisas em suas respectivas áreas. Assim, se eu citar um desses amigos, o meu contendor vai ter que se armar para discutir com ele, refutar os argumentos dele, e não os meus. Assim seguia o nosso diretor, o roteiro costurado para aquela cena.

Voltando a constelação, nanica, diga-se de passagem, utilizada por nosso diretor, tive a impressão de que ele fez algo do tipo "decoreba". Assim como fazem alguns, que se dizem guias turísticos, e começam a desfiar uma ladainha aos incautos turistas que têm a má sorte de se verem presos a esses estupradores da cultura alheia. Ainda me chamou a atenção o fato de que o diretor não encarava as câmeras e nem olhava para os jornalistas, era um olhar voltado e fixo para o chão, além de ficar o tempo todo mexendo na aliança ou anel, não consegui ver direito, mas com certeza eram sinais de que ele não estava à vontade.

Tive a impressão de que se nosso solitário e sitiado diretor - sim, pois ele estava no meio de um circulo e os jornalistas, tal qual sedentos algozes, o circundavam – não sobreviveria a um debate sério, verdadeiramente fundamentado nas questões de segurança pública, já que os seus amigos da segurança pública eram poucos, muito poucos. Na verdade eu tinha a impressão de que logo o Capitão Nascimento e seu Batalhão iriam fazer uma tomada tática do estúdio e resgatar o diretor, nem sem antes meter a cabeça dos jornalistas dentro de sacos plásticos até eles confessarem que tudo aquilo era parte de um complô para imprimir um tom cultural em algo que tom o foco na bilheteria, apenas. Depois do resgate o Capitão Nascimento se voltaria para o diretor, e como se estivesse no curso de táticas policiais, aplicaria um severo tapa em sua cara e gritaria: "senhor diretor, olha pra mim, olha pra mim, não olha pro chão não! Larga já esse anel e olha pra mim! O senhor é uma vergonha, senhor diretor! O senhor está envergonhando o nosso nome, senhor diretor! O senhor não é digno de estar aqui, senhor diretor! Pede para desistir, senhor diretor, pede pra desistir senhor diretor!"

Em determinado momento, ele o diretor, disse que uma das propostas do filme era chamar a atenção para a descriminalização das drogas. Argumentava que quando o consumo e a venda de drogas deixassem de ser crimes, iria acabar com toda a rede criminosa que o cerca. Ora, esse tipo de argumento, é antigo e ainda não se provou verdadeiro, não havendo a necessidade de mais um filme para tratar da problemática das drogas. Não me convenceu! Para mim Tropa de Elite continua sendo mais filme comercial como tantos que têm por ai. Mas o filme não foi feito para me convencer de nada, alias, ele foi feito para me convencer de uma coisa, apenas uma, ou seja, eu tenho que comprar um ingresso e ir assisti-lo, assim como fiz, e faço, com tantos outros filmes, como o Schreck e o Garfild, só para ficar em dois exemplos.
Mas, em seguida ele soltou a pérola que para mim define tudo sobre Tropa de Elite, o interesse meramente comercial. Os debates, os papos cabeça e todo o resto são puro marketing, o que interesse mesmo é a bilheteria. Oras, após defender o fim do crime para as praticas relacionadas com o consumo de drogas, o nosso diretor sentou a lenha na pirataria, de forma elegante, é claro. Discorreu um rosário de razões contra essa prática cruel que aflige a produção intelectual e sustenta uma rede criminosa, que nem o BOPE do Capitão Pimentel conseguira acabar. Sacaram só a semelhança entre o tráfico de drogas e a pirataria? Os dois sustentam uma rede subterrânea do crime, criam uma sociedade paralela a nossa.

Então eu vou dar uma sugestão para acabar com a rede criminosa que sustenta e é sustentada pela pirataria, e vou buscar no diretor – lembram o que eu falei anteriormente de irmos nos socorrer dos amigos em nossos debates – pois é vou buscar no diretor e nos jornalistas, que com ele debatiam a solução. Vou usar os jornalistas por que nenhum deles ousou contradizer o diretor quando ele defendeu a descriminalização das drogas e como quem cala consente, lá vou.

A sugestão é bem simples, vamos descriminalizar a pirataria, isso mesmo, pirataria vai deixar de ser crime, assim vamos acabar com a rede que a sustenta e por ela é sustenta. Meu Deus como é simples! Só que ai o filme, vai perder o interesse comercial, não seria mais feio dizer: eu assisti o piratão. Mas, eles iriam ver os seus lucros escoarem pelo ralo, e isso não faz mal, pois iria sobrar mais dinheiro para os usuários comprarem drogas, as descriminalizadas, que agora já não sustentariam mais uma rede criminosa. Solução perfeita para a nossa sociedade!
Brincadeirinha escrevi o parágrafo anterior só pra sacanear. A proposta é absurda demais. Se fosse tão bom assim o nosso diretor-papo-cabeça e seus amigos intelectuais já a teriam apresentado.

É por tudo isso que o Tropa de Elite é para mim mais um filme comercial, apenas isso, e me libertem dessas pseudo-discussões, por favor! Deixem-me comprar meu ingresso em paz. Que saudades do Schreck e do Garfild!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

1 comentários:

Anônimo disse...

Vamos lá Paulo em sua profissão você deixa os seus subordinados, lhe dirigirem a palavra ou deixa eles responderem com total autonomia?
Ou só podem dizer sim senhor ou não senhor!
Meu para de querer que lhe joguem serpentinas e confetes, pois para mim você não passa de um simples cidadão que gosta de ser bajulado e paparicado o tempo todo, estilo moleque de apartamento, que solta pipa no ventilador e chama a mãe, para ver o que está ocorrendo...
Porque criaram um BOPE ai em Santa Catarina só para mostrar para o povo que são policiais treinados...
E o Cap Nascimento dai treina tiro para acertar boi, tiro de comprometimento, faz me rir...
O grande especialista de segurança pública, ó sábio, o guru se liga meu, que a policia do seu estado e uma piada!
Elecktra!!!