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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


24 de jun. de 2009

O fim da morte súbita e alguns delírios

Quem quer morrer? Quem quer morrer? Quem quer morrer? Repito, quem quer morrer? Foi este o cenário que eu imaginei: você vai andando pela rua e se depara, a cada passo, com um destes entregadores de panfletos. Enquanto ele grita a famosa pergunta, literalmente, enfia na sua cara um panfleto com a inscrição: “fim da morte súbita”.

Em um primeiro momento você leva um choque. Depois, ao ler o panfleto você entende que se trata de mais uma descoberta da ciência. Os cientistas desvendaram o mecanismo que dispara a famosa morte súbita. Meu Deus, você grita. Acabou, não posso mais morrer em paz, lamenta.

Levaram a esperança daquele infarto fulminante, de dormir e não acordar. Agora só morte dolorosa. Os cientistas aprontam cada uma. Fiquei tão traumatizado quando ouvi a manchete, no telejornal, que perdi toda a vontade de assistir ao resto. Desliguei a TV. Até agora estou delirando. Não me interessa o resto da matéria.

Voltando ao delírio acima. Para espantar os panfleteiros, ou panfletadores (qual é o certo, será que existe “um certo” quando se trata de panfletagem?), a idéia de um cidadão blumenauense – andar com um gravador repetindo a mesma frase, algo do tipo: eu não quero, obrigado – ganha corpo, e você grava a sua mensagem.

Daquele dia em diante você passa a andar com um gravador repetindo: Não, obrigado. Eu só quero morrer em paz! O seu gravador faz tanto sucesso que você começa a receber encomendas. Cada dia chega mais encomendas. Como você está ganhando muito dinheiro, logo aparecem outros vendendo os mesmos gravadores, mas com mensagens “customizadas” (essa doeu) e para não perder mercado você contrata uns panfleteiros e começa a distribuir “flyers” (essa dou mais ainda) pelas ruas. Pronto, você entrou no mundo da panfletagem e

Colega leitor
Este foi o texto que encontrei junto ao corpo de um escritor muito amigo. Ao visitá-lo deparei-me com a sena macabra. Prostrado em uma cadeira, bem em frente à mesa, estava o corpo. O computador ligado e na tela aparecia o texto acima, inacabado. Por razões obvias não vou revelar o seu nome. Dias mais tarde o legista comunicou a causa de sua morte. Ele havia morrido de morte súbita. Um infarto fulminante havia lhe levado a vida. Trágica ironia.

Coitado, se tivesse pesquisado mais sobre a descoberta dos cientistas teria visto que toda a equipe foi acometida da tal gripe A, a suína popularmente conhecida, ou Influenza Porcina, para os mais eruditos. Estão todos recolhidos em quarentena. Essa é a vida, cada dia uma surpresa. Até que um dia...

Por isso, viva a vida!



Paulo Roberto Bornhofen
24/06/2009