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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


1 de set. de 2008

A palestra

Findando nosso curso MBA – Gestão Estratégica de Organizações – já estava começa a bater aquela “depre”. Por mais cansativo que possa ser ter que enfrentar um dia inteiro de aula, e no sábado, a companhia dos colegas superava qualquer obstáculo.

Fugindo a regra, tivemos aula na sexta-feira à noite. Este fato proporcionou que encerrada a aula, um grupo de formandos se dirigissem a cachaçaria para um brinde em honra a mais esta etapa que estava sendo vencida.

O curso havia iniciado com chave de ouro – aula magna proferida pelo Prof. Dr. Riccardo Riccardi – e estava encerrando da mesma forma; ou seja, o módulo era ministrado pelo mesmo Prof. Dr., agora já tratado como o nosso amigo.

Sábado às 08:30 estavam todos os alunos, mesmo aqueles que tinham ido ao encontro de Baco (na ausência de vinho, o mesmo foi substituído por cachaça e chope). Inexplicavelmente o nosso amigo, encarregado de dar a aula, se atrasou. Algo raro, que não passou despercebido por nenhum dos alunos. Porém, nenhum de nós teve a sensibilidade de captar que aquele atraso era um sinal. Sim um sinal, algo de terrível estava para nos acontecer. Ainda naquela manhã seriamos atingidos por algo que chocaria a todos. Inexplicáveis forças atingiriam a totalidade dos alunos e também o nosso ministrante.

Por volta das 10:30 entra um dos diretores da instituição e se apossa do restante da aula, expulsando o professor, pois tinha que tratar da nossa monografia. Tudo bem, já que a primeira parte do curso estava praticamente concluída, se bem que já tínhamos tido outros encontros, e alguns desencontros, sobre a tal monografia. Mas o que estava por vir nenhum dos alunos, em sua mais sombria imaginação, conseguia prever. Por mais de uma hora fomos bombardeados com uma palestra, que podemos classificar como sendo algo um tanto quanto “funéreo-filosófico”.

O nosso palestrante iniciou sua preleção com um tom de voz fúnebre, como que a anunciar a morte de um ente querido, daqiueles muito querido mesmo. Para nosso desespero, este tom foi mantido até o fim, sendo que o anuncio da tal morte nunca veio, mas o tom funesto impregnou todo o ambiente. Ficamos meio sem saber o que era pior, o anuncio de uma morte, ou a manutenção daquela situação desconfortante.

A conversa, ou melhor, a palestra, trilhou vários caminhos, adentrou por várias vertentes, tomou vieses um tanto quanto distintos. Sendo um pouco audacioso, eu diria que foi um tanto quanto questionável, já que estava regada de muita bazófia. Vagou do filosófico ao deletério. Hora atingia alturas inimagináveis, horas descia a precipícios inalcançáveis. Entre uma oscilação e outra, posso afirmar que jamais coincidiu com a freqüência na qual os alunos estavam vibrando. Desta forma fica fácil entender que houve um choque.

Naquele ambiente, sem receio algum, que podia ser classificado como constranger, os alunos trocavam olhares. Inicialmente, para manter um certo grau de civilidade, os olhares eram tímidos. Talvez bem lá no íntimo todos esperavam que a palestra fosse ser curta, que tivesse vida breve. Diria até que contaminados pelo tom tétrico da fala, muitos desejavam o fim. O fim daquela situação.

Como que em um crescente, na proporção direta do tempo, os olhares passaram a ser ousados. Em muitos, se podia ver o compartilhamento de uma única interrogação: o que isto significa? E em todos os rostos estava estampada a resposta: não sei! Apenas uma pessoa poderia responder esta que se tornou a grande interrogação, e era o palestrante. Inexplicavelmente ao findar a palestra, em um ato derradeiro, veio o golpe fatal, a resposta nos foi negada!

Assim ficamos todos, sem nada entender. Plagiando o palestrante, não sei se foi eu; usando o meu lado psicológico; ou se foi nós, usando o nosso lado sociológico, que não entendemos nada. Eu prefiro uma terceira via e diria que foi ele, usando o nosso lado escatológico, que não sabia para que veio, ou se sabia, escondeu de todos.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta
2005

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