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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


2 de set. de 2008

A Boneca

Boneca é brinquedo de menina e carrinho é brinquedo de menino! Assim fomos criados, e até hoje nossas crianças ainda assim são criadas. Não vemos mães ou pais entrando em lojas e comprando bonecas para os seus filhos homens, ou carrinhos para suas filhas mulheres, não, isso não. Quando crianças, era assim que nos divertíamos, os meninos brincando com carrinhos e as meninas com boneca. O máximo que nos era permitido, eram as brincadeiras de médico, quando meninos e meninas se encontravam, mas esse ainda é um assunto meio proibido, os meninos – hoje crescidinhos – até gostam de contar com certa vantagem suas primeiras aventuras no mundo da pseudo-medicina. Já por outro lado, as meninas não gostam muito de contar que se submeteram, com certa complacência, as investidas nada cientificas dos falsos médicos.

Pois bem, a vida passa, mas continuamos sendo eternas crianças. Os meninos substituem os seus carrinhos de brinquedo por belos carros, mas não aderem às bonecas. As meninas, por sua vez, preservam suas bonecas, mas aderem aos belos carros dos meninos. E, não é que dia desses uma boneca teve participação especial em nossa aula de mestrado. Em uma série de eventos programados e alguns não programados uma boneca, dessas de brinquedo foi levada para a sala de aula. O objetivo era brindar aqueles alunos que com suas contribuições, mais atrapalhassem que ajudassem o desenvolvimento da disciplina, com a guarda da bonequinha. Foi uma brincadeira que as meninas não tiveram chance. A boneca foi ferozmente disputada momento a momento por marmanjões. Em determinadas situações chegou a ser comovente ver a candura com que alguns marmanjos dispensavam seus carinhos para com o pequeno objeto, que de objeto de diversão passou a ser objeto de desejo. Em alguns rostos conseguia-se visualizar um certo ar de decepção quando a guarda da pequena lhes era negada. Por outro lado, aqueles que a recebiam não conseguiam disfarçar o ar de felicidade.

Em determinado momento a disputa ficou tão feroz que a dona do pequeno mimo se viu diante da situação de perdê-la, para mãos rudes, não treinadas na arte de bem tratar pequenas bonecas de porcelana. Alias, esse é outro detalhe que pude constatar. Um leve e profundo ar de frustração que certos meninões ostentavam em seus semblantes, como que lamentando a infância perdida, pois a falta da uma boneca em suas vidas, agora revelava uma infância desgraçada, medonha, que foi escondida, subjugada por de frotas de carrinhos, quando a verdadeira felicidade estava na eterna esperança de ganhar uma linda e meiga bonequinha. Algo que nunca aconteceu. Os natais vieram e se foram, os aniversários idem, na páscoa nem uma bonequinha de chocolate, que talvez fosse devorada com uma volúpia desmedida, ou então preservada eternamente, jamais saberemos. Nunca até aquele maravilhoso dia, quando na frente de todos podiam expor toda a sua alegria, mesmo que efêmera, mas verdadeira. Foi um momento mágico, que ficará eternamente marcado em nossa caminhada. De minha parte, recordei maravilhosos momentos de minha infância. Não que eu brincasse de boneca, quanto aos carrinhos, bem esses eram poucos, e mesmo assim foram a minha companhia. Agora o que eu não perdia mesmo era uma oportunidade de brincar de médico, bastava ter uma paciente. Dessa forma confesso que a oportunidade de voltar aos primórdios de minha existência pela via da medicina sem compromisso me atrai. Por isso enquanto os marmanjos disputavam quase que a tapa a tal da boneca, me bateu uma tremenda melancolia misturada com uma enorme frustração. Meu Deus, que vontade louca de brincar de médico!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta
2007

1 comentários:

Anônimo disse...

Como eu descrevo o Bornhofen,um homem de meia altura,farda impecável,cabelos grisalhos,face sem rugas e com um ar de quem ama o poder!!!
Gostaria de saber qual e a sua essência?Quem e o ser humano que está por detrás dessa farda?
Você passa um ar de quem tenta proteger a sociedade mais percebo que não tem proteção emocional!
Cuidado o senhor luta pela segurança social, mais o medo e a solidão são ladrões que furtam a emoção mais que os perigosos delinquentes,você foi treinado para lidar com marginais, mais garanto que nunca ouviu em falar de ladrões da psique.Garanto que não sabe o que fazer sem sua arma e sua patente, se acha sábio com seu mestrado mais está preso no seu próprio intelecto, se auto intitula grande sábio em segurança e literatura fez doutorado, mestrados e não consegue parar um minuto de tentar diminuir outras clases e outras pessoas e um lobo tentando se passar na pele de um cordeiro.
Enquanto você não retirar esse gesso da mente que foi imposto dentro da caserna, onde você adquiriu essa arrogância, essa soberba,esse autoritarismo e esse centralismo, no quesito vida você não aprendeu a ser você e respirar fundo e ter por um minuto pensamentos próprios, sem esse gesso que molda seus pensamentos!
Ai quem sabe se torne um grande intelectual, aquele que possa ajudar de fato sem a sigla AVC!
São conselhos de um nobre amigo!