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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


1 de set. de 2008

Assim evolui a humanidade

Dizem os estudiosos que o homem passou a viver em grupos para se proteger, assim como ainda fazem hoje os animais na natureza, principalmente os mamíferos. Esta vivência em grupos permitiu que o bicho homem desenvolvesse regras que viessem a facilitar e a garantir a vida de todos. Se observarmos os animais irracionais, estes também possuem regras de convivência cujo objetivo principal é a sobrevivência do grupo. Desta forma quando um dos animais integrantes do grupo adoece ou envelhece a natureza se encarrega, através dos predadores, da eliminação deste individuo. Assim o grupo fica preservado.

O homem vem ao longo de milhares de anos, e mais aceleradamente do século XX para cá desenvolvendo uma série de tecnologias que permitam ao próprio homem viver mais e viver melhor. Como dizem que tudo o que o homem constrói não é natural, então temos que, de forma artificial, o homem vem prolongando sua estadia na face da terra e melhorando a qualidade desta estadia. Não me refiro ao homem como espécie, mas sim como individuo. Estamos vivendo cada vez mais e melhor. A medicina tem evoluído muito. Bilhões e bilhões de dólares movimentam uma industria que é uma das mais poderosas do mundo. Hospitais se modernizaram e hoje prestam serviços dignos dos melhores hotéis. O homem continua conspirando contra a natureza e a subjugando. A cada dia prova que é mais forte que a natureza e faz de tudo para depender cada vez menos dela para sobreviver. Parece que vivemos uma apoteose do desenvolvimento, do desenvolvimento tecnológico.

A natureza, periodicamente, manda seu recado dizendo para o homem que ele não é tão especial assim como pensa que é. Não me refiro aos desastres naturais, tão vivos em nossa mente através da devastação de uma tsunami assassina que de um só golpe ceifou a vida de quase de 300.000 seres humanos. Refiro-me simplesmente a ação de um único homem, um marido. Um marido que se tornou famoso no mundo todo ao pedir a morte da sua ex-esposa. Não agiu como um assassino frio e covarde que se vale da fraqueza física do sexo feminino e tira a vida de sua companheira. Não, ele se valeu de toda a sorte de regras que o homem criou para garantir a sua sobrevivência, como individuo, no grupo e conseguiu de forma lícita tirar a vida de sua “ex”.

Em sociedades “desenvolvidas” que cultuam a pena de morte, não é permitido ao individuo sequer requerer tal castigo, cabe apenas ao estado este direito. Mas a “ex” de nosso protagonista não cometeu crime algum para que o estado solicitasse o cancelamento de seu direito de existir. Então para que o nosso protagonista pudesse levar a cabo seu desejo de morte, ele conseguiu que o estado negasse a sua indefesa “ex” todos os recursos tecnológicos resultantes daqueles bilhões e bilhões de dólares empregados em anos de pesquisa e tecnologia.

O golpe fatal é de uma simplicidade que nos deixa atordoados. Simplesmente foi dado a nós, seres humanos, a oportunidade de reconhecer que a evolução tecnológica que conduzimos, não permitiu que evoluíssemos como seres humanos. Nossa humanidade continua tão primitiva quanto à de qualquer dos grandes mamíferos que hoje ainda vagam pelas savanas africanas. Assim como os irracionais fazem, nós os racionais, também somos capazes de abandonar nossos iguais quando estes deixam de ser tão iguais assim, mesmo que não coloquem mais o grupo todo de racionais em risco. A diferença é que na savana tem sempre um predador para acabar de forma rápida como o sofrimento dos infelizes. Porém, nós os racionais não podemos permitir isto, de forma que criamos a chamada morte assistida. No caso em questão, estamos assistindo a uma morte por inanição, nossa infeliz ira morrer lenta e gradualmente de fome e sede.

Assim evolui, assustadoramente, a humanidade.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta
2005

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