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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


2 de ago. de 2010

Eu, Parteiro!?

Certas coisas não combinam comigo. A paternidade é, sem dúvida, a principal delas. Não tenho qualquer afinidade com a natureza procriadora do chamado ser humano. Fui criado na doutrina cristã. Quando jovem, fui muito praticante, sendo coroinha – tá certo que foi só em uma missa – pertenci a grupo de jovens e ia à missa toda semana. Hoje, não mais pratico, a religião, apenas mantenho a minha fé.

Como cristão li a bíblia. Entendo que quando o Criador proferiu a sentença “crescei e multiplicai-vos”, Elo o fez para toda a humanidade em geral e não para cada casal em particular. É uma questão ecológica, obviamente. Alias, se algum ser pode se considerar ecologicamente correto, o Criador é este ser.

Pois bem, acho que todos entenderam que eu não tenho e nunca tive a mínima familiaridade com a arte da procriação. Resumindo, para os que ainda não entenderam, não tenho filhos! Ou melhor, que eu saiba, não os tive. Não sei o que é o convívio com uma mulher em estado de gravidez. Quando, em frente à TV, aparece uma cena de parto, confesso que fujo da sala, se minha esposa insistir em vê-la, ou mudo de canal, quando sozinho.

Mas, nem tudo na vida são flores. Vai que em meu serviço surge uma grávida. Foi interessante acompanhar o desenvolvimento deste estágio na vida daquela mulher. Vi-me envolvido em conversas totalmente estranhas ao meu imaginário. Coisas do tipo, o neném está com tantos centímetros, já pesa tanto, ontem mexeu, hoje está chutando muito, o pai anda meio bobo (acho que este estágio de bobeira atinge a todos os pais indistintamente).

Assim a vida seguia o seu destino, com aquela mulher aumentando de tamanho a cada dia. Cheguei até a imaginar que um dia o bebe tomaria todo o seu corpo, tamanha proporção que a criatura que estava ganhando. Até que, eis que determinada manhã me chega a futura mamãe, e sem pedir licença – muito menos avisar – comunica: a minha médica está me esperando hoje, a qualquer hora. É que a minha barriga está muito dura e sinto algumas dores. Disse, ainda, que era um tipo de preparo para as contrações, ou algo assim. Confesso (meu lado cristão novamente se manifestando) que meu estado de pavor já não me permitia prestar atenção a qualquer coisa. Para piorar, sim ficou pior, ela disse que havia tido um sangramento.

A casa literalmente caiu. Um terror se apoderou de mim. Meu Deus, o que eu vou fazer? E se essa mulher resolve dar a luz agora? Um universo de possibilidades, todas catastroficamente medonhas, assombrava minha lucidez, ou o que sobrou dela. – Te arranca pro médico, vai cuidar dessa criança, disse eu. Para minha felicidade fui rapidamente atendido, o que permitiu a minha salvação. Graças ao bom Deus, que em Sua infinita sabedoria, livrou aquela criança de vir ao mundo sob os meus cuidados. Amém e que assim seja, para o todo e sempre!

Paulo Roberto Bornhofen