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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


4 de set. de 2008

Tormenta de emoções

Doce, o aroma se expande, contamina o ar.
Energia, lancinante, desfalece o ser.
A pele se amplia em cada um dos poros, arde!
Como hortelã, invade, refresca a alma.

Trovões de violinos embalam a fúria serena do mar.
A aridez da seda, sutil, embriaga o alvorecer.
O ardor da lava enrijece a fibra, desfigura a carne.
A sensualidade do aroma alastra, acalma.

Placidamente ouço (minha) voz urrar.
A fúria escaldante congela o prazer.
O fogo da liberdade destrói o limiar.
Realidade retumbante, abrupta, desperta.

Lampejos - de lucidez - fingem aflorar.
O desconhecido nutre o resplandecer.
O inédito impulsiona o desabrochar
Em êxtase, finalmente, a resposta liberta.

Foi... Só o amor!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

O pêndulo

Dizem que vai e vem
Mas ele vai e vai
Pois se fosse e viesse
Não iria
Então, já se foi.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

O eterno

O tempo passou e ele não viu
Que a busca do tempo o tempo ruiu
E assim, de novo, ele não viu
Que o tempo não é o que se busca
Mas sim o que se sentiu.
E, que eterno não é o que se quer
Mas, sim de onde ele partiu.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

Desespero

A vida, desprezo.
O amor, desconheço.
A gratidão, ignoro.

A amizade, abandono.
A liberdade, anseio.
A morte, espero.

A morte não veio!

Recorro ao desespero.
Como achar?
Quem me salvará?

A solidão se oferece!

Do amor necessito
A gratidão acalento
Com amizade consigo a
Liberdade. Bem...
Essa só com a morte.
Mas a morte não veio!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

Os sete pecados

Enquanto a Luxúria lhe motivava
Aos amigos Invejava e
Suas mulheres Cobiçava
Com Preguiça a vida levava
Da Gula se fartava
Com Ira se relacionava
Os Sete ignorava
O Orgulho...
Bem, este, a Vida lhe roubava.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

Histórias de um mundo assombrado

Um amigo me contou que em sua aldeia, os pais, para assustarem as crianças, contavam a história de um mundo assombrado. A história orbitava em torno do eterno combate entre o bem e o mal, as forças da luz contra as das trevas, como em toda cultura. Mas naquela aldeia eles encontraram uma forma mais assustadora, ainda, de dar vida ao tema. Vamos a ela.
Cai a noite. As criaturas nefastas, ligadas ao maligno, se reúnem. A cidade calma prepara-se para mais uma noite tranqüila de descanso. Mas as pessoas não sabem o que as espera. Não passa pela cabeça, do mais simplório ao mais audaz dos chefes de família, e das demais pessoas que trabalharam e trabalham diariamente para ganhar seu sustento, o que está por vir. As famílias já estão reunidas, muitos já fizeram sua refeição noturna e estão se retirando para o repouso após um árduo dia na labuta. Labuta esta que irá proporcionar-lhes, ao final do mês, uma retribuição financeira para que o seu sustento esteja garantido por mais um mês, para os mais afortunados, ou pelo período que der, para a grande parte deles. A ampla maioria procura formas de aumentar esta retribuição financeira para terem um pouco mais de dignidade. Uns se entregam a mais horas de trabalho na mesma atividade, outros buscam uma segunda atividade, porém, tudo dentro de uma dignidade. Mas as criaturas nefastas não. Estas buscam formas menos dignas, na verdade, totalmente indignas para verem aumentada sua participação no quinhão. Obviamente, sem aumentarem o tempo que deveriam dedicar-se à sagrada arte do trabalho. O quinhão, disse esse meu amigo, era o que os aldeões eram obrigados a pagar às criaturas. E que as criaturas eram um pequeno grupo de aldeões que estavam a serviço do lado negro da força.
Tudo estava preparado, seria naquele dia e na calada da noite. As criaturas da noite começam a chegar. Para não chamarem muito a atenção, reúnem-se, quase que em segredo e tramam o pior. Algumas destas criaturas se assustam com a vilania da maldade que lhes é apresentada, temem pela forma como os da aldeia, que deveriam representar, irão receber a notícia. Outros, sem se importarem, sem darem a mínima para os aldeões, seguem em frente com seu intento e tratam de convencer os demais a aceitarem.
O tempo vai passando e quando as trevas da noite lançam suas sombras sobre o casario do belo vale, o castelo, agora transformado em covil, entra em ebulição. É um frenesi, algo semelhante ao de um cardume de piranhas quando estão a devorar sua presa. Outros, pelo movimento que fazem, lembram mais o giro da morte executado pelos jacarés quando arrancam grandes nacos de suas presas. Há, ainda, os que lembram mais o ritual de crueldade perpetrado pelo grande tubarão branco, que de posse de sua vítima brinca com ela antes de devorá-la. Para os mais criativos, ou nem tanto, o espetáculo lembrava mais aquele que minúsculos seres alados, conhecidos como moscas, estabelecem quando se banqueteiam em fedorentos exemplares de material orgânico em decomposição, conhecidos como bolo fecal.
Aqueles que tiveram a oportunidade de assistir garantem que foi um espetáculo dantesco, triste mesmo. Chegaram a compará-lo com as cenas degradantes que tomam lugar quando populações em situação famélica se atiram contra qualquer coisa que possa lhes encher o bucho e aplacar um pouco sua fome. E vão mais longe ao afirmar que tão grotesca era a cena, que levaria às lágrimas aqueles de estômago mais sensível.
Tudo pronto, tudo preparado, as artimanhas funcionaram como nunca, os sortilégios do lado negro da força mostraram todo o esplendor de sua força e o golpe fulminante foi lançado contra a dignidade de todo um povoado. Quando os primeiros raios do sol fizeram repousar as trevas da noite, o mal, através dos maus, triunfara. Os senhores vis, as criaturas nefastas, que na verdade deveriam representar os interesses dos demais, quem sabe inspirados em Lúcifer, dançavam a dança da vitória. E o povo mais uma vez constatou o desprezo que lhes dedicava a horda de perversos. De forma escancarada eles haviam aumentado a sua cota de participação no quinhão. Mas os aldeões não se deram por vencidos. Protestaram e fizeram chegar sua indignação, sua revolta ao grande líder, que chamou as criaturas nefastas e negociou a paz, desfazendo momentaneamente o mal e resgatando a dignidade dos aldeões.
Nesta história, mesmo que de forma momentânea o mal triunfou. Ainda bem que é apenas uma história para assustar criancinhas. Mas é bom ficar atento, pois nunca sabemos as formas com que as forças do mal, do perverso, podem se manifestar. Lá, na aldeia do meu amigo, esta história é transmitida de geração em geração, para que os aldeões nunca se esqueçam do perigo a que estiveram submetidos naqueles longínquos dias, mas que continua a pairar sobre eles, espreitando, aguardando o melhor momento de voltar e fincar suas garras vis na dignidade da aldeia. Até hoje eu ainda me arrepio e chego a suar frio só de imaginar que isto possa um dia voltar a se materializar, mesmo que seja lá, naquele vale remoto, em que está localizada a aldeia do meu amigo.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e poeta

O facínora de alta periculosidade e elevada idade

Eu tenho um amigo que me consta histórias fascinantes que aconteceram na aldeia dele. Em uma das oportunidades ele me contou de um perigoso facínora, um terrível malfeitor de elevada idade, ou melhor, como este perigoso celerado foi criado, se tornou alguém de alta periculosidade para a toda a aldeia.
O homem enveredou pela vida do crime já idoso, com quase 80 anos, mas foi fundo e terminou preso, enjaulado, segregado da sociedade. Ocorre que não foi o homem que alterou seu comportamento, mas sim o comportamento dele que passou a ser encarado pelo viés criminoso. Ele, o facínora, antes de o ser, passou quase a totalidade da sua vida amarrando a sua vaquinha para pastar em um local público. Esse foi o começo de sua vida criminosa.
Dia após dia, ele calmamente levava seus ruminantes de chifres e os deixava placidamente fazerem aquilo que a natureza exigia deles, ou seja, pastarem. Isso por décadas. Mas o tempo foi passando, a sociedade foi ficando mais complexa e para poder por ordem no caos os habitantes da aldeia foram alterando o seu código de leis. Assim, sempre que um tipo de comportamento começava a incomodar, eles determinavam que o mesmo passasse a ser crime e os criminosos eram punidos. Agindo assim, os aldeões achavam que conseguiriam resolver os seus problemas.
Então, após o tempo surtir seus efeitos em décadas de existência, as coisas complicaram para o lado daquele que viria a se tornar um perigoso criminoso. Alheio aos caprichos da aldeia, a natureza seguia seu curso exigindo que as vaquinhas continuassem a pastar. Como o pasto continuava apetitoso as vaquinhas eram levadas diariamente para o mesmo lugar. Mas, o pasto, mesmo apetitoso, estava em lugar errado. Não, o pasto não se moveu, foi o entorno dele que foi alterado pelo povo da aldeia, de forma que a presença dos chifrudos ruminantes passou a ser um perigo para vida dos integrantes da aldeia, mesmo que eles só pastassem. Um determinado dia, um dos aldeões achou que tinha dar um basta naquela grave quebra da ordem e determinou, em nome da normalidade, que os chifrudos não poderiam mais fazer sua alimentação naquele local, que o dono dos bichos estava proibido de conduzir as vaquinhas até aquele apetitoso e verdejante pasto.
Foi quando as coisas, que já estavam ruins, pioraram para o facínora. Ele simplesmente se recusou a cumprir a determinação, já que por décadas, religiosamente dia após dia ele conduzia seus animais ao mesmo local. Para ele, já com os efeitos do tempo agindo em sua longa existência, ficara difícil acompanhar a velocidade das mudanças no comportamento do povo da aldeia. Na sua forma de raciocinar ele não enxergava o terrível crime, ato vil, pecaminoso, abominável e desprezível, que insistia em reproduzir no seu cotidiano, em uma afronta aos agora sagrados códigos de conduta.
O vilão-mor foi conduzido para dar explicações. Na tentativa de justificar suas atitudes, e sem dominar o linguajar adequado, foi dado com o perigoso encrenqueiro e lhe atribuíram mais um crime. Coitado, não sabia que falar de forma inadequada tinha sido transformado em crime, e agora passara a ser um criminoso freqüente, um delinqüente de vários crimes. Para alguns ele era apenas birrento, alguém que as duras décadas de existência não permitiram se aperfeiçoar no trato com os demais aldeões. Mas, para outros, não. O seu comportamento era algo inadmissível, perigoso para o convívio com aldeões distintos, os considerados decentes. E ele foi encarcerado, segregado da aldeia. Foi entregue para cumprir sua pena longe do todos. Mas lá, ele conseguiu algumas regalias, coisas que a idade avançada ainda permitia, de modo que apenas passava a noite lá e durante o dia ele podia cuidar de sua companheira de longa data, e também das vaquinhas, que agora estavam em outro lugar, alheias a tudo saboreando outro pasto verdinho.
Até que um dia ele abusou da bondade do aparelho segregador, em determinada noite ele não voltou. Ficou cuidando da sua companheira, que estava adoecida. Novamente ele percorreu o caminho indevido e afrontou o sistema montado pelos aldeões para cuidar de gente como ele. Sendo assim, o sistema que foi criado para segregar os perigosos dos demais aldeões não podia permitir tal assanhamento, tamanha petulância, e ele perdeu toda e qualquer regalia, seus benefícios foram cortados, ele deu adeus aos privilégios, afinal regalia é prerrogativa apenas de quem merece. Assim nosso facínora, do alto de sua periculosidade angariada em quase oito décadas de existência passou a compartilhar sua companhia com gente tão perigosa quanto ele, homicidas, traficantes, ladrões e outros. A sociedade finalmente estava protegida de tamanho risco. Poderia agora retornar a sua calma. Lá, disse o meu amigo, referindo-se a aldeia dele, eles chamam isso de justiça. É?

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e poeta

Tropa de Elite – Tráfico de Drogas e Direitos Autorais

Assisti recentemente um debate entre o Diretor do filme Tropa de Elite e alguns jornalistas. Um papo do tipo cabeça, que envolvia discussões sobre doutrinas totalitárias, citações de autores famosos, muita filosofia e outras coisas do tipo "eu-sou-da-elite-intelectual". Bem daquele tipo que se emprega quando queremos ficar distante da grande massa, do povão, daqueles que não dominam esse tipo de vocabulário. Os jornalistas se esforçavam para imprimir um viés cultural ao debate. O diretor, por sua vez, reforçava a posição do grupo e se mostrou muito bem articulado, fazendo várias citações a conhecidos "medalhões" nacionais que escrevem sobre a segurança pública.

Uma bem urdida tentativa de transformar em debate cultural um simples filme comercial. Digo simples no sentido de ser comercial, igual a qualquer outro, sem entrar em detalhes técnicos sobre roteiro, luz, movimento de câmera, cenografia, desempenhos dos atores e outros detalhes da mesma linha. Mas, chamou-me a atenção o fato de que os ditos "medalhões" citados eram sempre os mesmos. Ou seja, o universo acadêmico utilizado pelo diretor orbitava em não mais que duas ou três "estrelas".
Em dado momento pareceu-me aquelas discussões intelectualoides sobre o ciclo de cinema cultural sueco. Não tenho nada contra os suecos, ou contra o cinema cultural, ou ainda contra um tal ciclo de cinema cultural sueco, se é que ele algum dia existiu, mas é que isso tipo de debate não interessava a ninguém, somente aqueles que queiram se passar por intelectuais. No meio acadêmico aprendemos que em um debate devemos recorrer aos chamados amigos, que são na verdade pesquisadores que se notabilizaram através de pesquisas em suas respectivas áreas. Assim, se eu citar um desses amigos, o meu contendor vai ter que se armar para discutir com ele, refutar os argumentos dele, e não os meus. Assim seguia o nosso diretor, o roteiro costurado para aquela cena.

Voltando a constelação, nanica, diga-se de passagem, utilizada por nosso diretor, tive a impressão de que ele fez algo do tipo "decoreba". Assim como fazem alguns, que se dizem guias turísticos, e começam a desfiar uma ladainha aos incautos turistas que têm a má sorte de se verem presos a esses estupradores da cultura alheia. Ainda me chamou a atenção o fato de que o diretor não encarava as câmeras e nem olhava para os jornalistas, era um olhar voltado e fixo para o chão, além de ficar o tempo todo mexendo na aliança ou anel, não consegui ver direito, mas com certeza eram sinais de que ele não estava à vontade.

Tive a impressão de que se nosso solitário e sitiado diretor - sim, pois ele estava no meio de um circulo e os jornalistas, tal qual sedentos algozes, o circundavam – não sobreviveria a um debate sério, verdadeiramente fundamentado nas questões de segurança pública, já que os seus amigos da segurança pública eram poucos, muito poucos. Na verdade eu tinha a impressão de que logo o Capitão Nascimento e seu Batalhão iriam fazer uma tomada tática do estúdio e resgatar o diretor, nem sem antes meter a cabeça dos jornalistas dentro de sacos plásticos até eles confessarem que tudo aquilo era parte de um complô para imprimir um tom cultural em algo que tom o foco na bilheteria, apenas. Depois do resgate o Capitão Nascimento se voltaria para o diretor, e como se estivesse no curso de táticas policiais, aplicaria um severo tapa em sua cara e gritaria: "senhor diretor, olha pra mim, olha pra mim, não olha pro chão não! Larga já esse anel e olha pra mim! O senhor é uma vergonha, senhor diretor! O senhor está envergonhando o nosso nome, senhor diretor! O senhor não é digno de estar aqui, senhor diretor! Pede para desistir, senhor diretor, pede pra desistir senhor diretor!"

Em determinado momento, ele o diretor, disse que uma das propostas do filme era chamar a atenção para a descriminalização das drogas. Argumentava que quando o consumo e a venda de drogas deixassem de ser crimes, iria acabar com toda a rede criminosa que o cerca. Ora, esse tipo de argumento, é antigo e ainda não se provou verdadeiro, não havendo a necessidade de mais um filme para tratar da problemática das drogas. Não me convenceu! Para mim Tropa de Elite continua sendo mais filme comercial como tantos que têm por ai. Mas o filme não foi feito para me convencer de nada, alias, ele foi feito para me convencer de uma coisa, apenas uma, ou seja, eu tenho que comprar um ingresso e ir assisti-lo, assim como fiz, e faço, com tantos outros filmes, como o Schreck e o Garfild, só para ficar em dois exemplos.
Mas, em seguida ele soltou a pérola que para mim define tudo sobre Tropa de Elite, o interesse meramente comercial. Os debates, os papos cabeça e todo o resto são puro marketing, o que interesse mesmo é a bilheteria. Oras, após defender o fim do crime para as praticas relacionadas com o consumo de drogas, o nosso diretor sentou a lenha na pirataria, de forma elegante, é claro. Discorreu um rosário de razões contra essa prática cruel que aflige a produção intelectual e sustenta uma rede criminosa, que nem o BOPE do Capitão Pimentel conseguira acabar. Sacaram só a semelhança entre o tráfico de drogas e a pirataria? Os dois sustentam uma rede subterrânea do crime, criam uma sociedade paralela a nossa.

Então eu vou dar uma sugestão para acabar com a rede criminosa que sustenta e é sustentada pela pirataria, e vou buscar no diretor – lembram o que eu falei anteriormente de irmos nos socorrer dos amigos em nossos debates – pois é vou buscar no diretor e nos jornalistas, que com ele debatiam a solução. Vou usar os jornalistas por que nenhum deles ousou contradizer o diretor quando ele defendeu a descriminalização das drogas e como quem cala consente, lá vou.

A sugestão é bem simples, vamos descriminalizar a pirataria, isso mesmo, pirataria vai deixar de ser crime, assim vamos acabar com a rede que a sustenta e por ela é sustenta. Meu Deus como é simples! Só que ai o filme, vai perder o interesse comercial, não seria mais feio dizer: eu assisti o piratão. Mas, eles iriam ver os seus lucros escoarem pelo ralo, e isso não faz mal, pois iria sobrar mais dinheiro para os usuários comprarem drogas, as descriminalizadas, que agora já não sustentariam mais uma rede criminosa. Solução perfeita para a nossa sociedade!
Brincadeirinha escrevi o parágrafo anterior só pra sacanear. A proposta é absurda demais. Se fosse tão bom assim o nosso diretor-papo-cabeça e seus amigos intelectuais já a teriam apresentado.

É por tudo isso que o Tropa de Elite é para mim mais um filme comercial, apenas isso, e me libertem dessas pseudo-discussões, por favor! Deixem-me comprar meu ingresso em paz. Que saudades do Schreck e do Garfild!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

Uma sexóloga no Ministério do Turismo

Via de regra a formação acadêmica serve como base para a vida profissional das pessoas. Via de regra, pois nem sempre é assim. Na vida política é diferente. Já tivemos um médico que foi Ministro da Economia e agora temos uma Sexóloga que é Ministra do Turismo. E eis que nossa “ministra-sexóloga” fez das suas. Em data politicamente importante, quando o Presidente da República fazia o anúncio de mais um plano, dessa vez para o turismo, ao ser questionada sobre o terrível problema que vem assolando nossos aeroportos, e atingindo a todos nós que precisamos usar do transporte aéreo, a “sexóloga-ministra” saiu com uma espetacular resposta: “relaxa e goza, pois quando chegar no destino esquece de tudo!” Tudo bem, temos que admitir que sua ousadia teve o mérito de oficializar aquilo que todos já sabíamos, que estamos sendo sistematicamente estuprados por quem deveria nos representar.

Diante de toda essa beleza de conselho eu fico me perguntando, por que não nomear logo uma prostituta para o cargo? Veja só, a sexóloga é a pessoa oriunda do meio acadêmico, ligado ao conhecimento científico, as pesquisas, aos teóricos da causa. Já a prostituta não, essa fez, e faz, seu aprendizado na vivência, está mais ligada com as práticas, com o rala e rola do dia-a-dia.

Por outro lado, o Presidente da República ao contratar uma prostituta, poderia ter seu tratamento ampliado. Não se restringiria mais apenas ao “Vossa Excelência”, mas poderíamos chamá-lo de “o senhor-rufião”, “gigolô-líder”, “proxeneta-mor”, ou para os mais carinhosos de “aquele-adorável-cafetão-de-barbas-grisalhas”.

Não podemos, ainda, nos esquecer de que com os milionários investimentos que estão sendo feitos em nossos aeroportos, os mesmos passariam a ser oficialmente reconhecidos como os bordéis mais luxuosos do mundo. Local onde as mais descaradas orgias acontecem e à luz do dia e diante (e por detrás) de todos, aliás queiram ou não, com a participação de todos.

Como os atrasos não são poucos e nem se restringem a poucos minutos, poderíamos classificá-los de acordo com as práticas sexuais, tanto as ortodoxas, como as mais heterodoxas possíveis. Assim, aqueles cujo atraso fosse superior a 8 horas, seriam os “sexos tântricos”, aquela prática oriental que permite aos seus seguidores se entregarem aos prazeres carnais por longos períodos. Os vôos cancelados seriam os “atos interrompidos”. Os atrasos menores, coisa de quinze minutos, ou um pouco mais, seriam os “ficantes” “ou peguetes” e assim por diante. Os que saíssem no horário, por sua vez ficariam sem graça, mas não faltariam gaiatos para batizá-los de “papai e mamãe”. Bem, assim tal qual o sexo, teríamos para todos os gostos.

As explicações que os passageiros dariam para quem os estivesse esperando nos destinos seriam igualmente interessantes: “é, tive um “ato interrompido” ontem e só consegui continuar hoje. Mas para meu desespero tive que enfrentar um “sexo tântrico” de 12 horas. Olha bem pra mim, estou um farrapo, minhas forças estão esgotadas, tão cedo não quero repetir essa experiência. De agora em diante, e por um bom tempo, só “papai e mamãe”, nem quero pensar na volta, não posso passar por tudo isso novamente. Não tenho mais idade para isso!”

Para os nossos políticos ficaria mais fácil explicar suas escapadas sexuais: “sabe como é, quando eu dei por mim estava enfiado em um daqueles “vôos peguetes” e aí aconteceu. A minha mulher é claro que entende, ela sabe que não foi premeditado. Simplesmente aconteceu, quando a gente se deu conta já tinha acontecido. Foi tudo meio sem compromisso, mas como fomos pegos de surpresa, estávamos sem proteção e aí não teve outra saída. Mas, resolvi tudo, arrumei um lobista que vai cobrir as minhas despesas”.

Quando a nossa “ministra-prostituta” fosse questionada sobre o caos nos aeroportos, ela com um autêntico sorriso, responderia: olha pessoal o que aconteceu foi que simplesmente fud...!

Com toda a certeza seria uma resposta mais convincente, pois seria uma resposta profissional.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta