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Blog literário criado em 29/08/2008, na cidade de Blumenau-SC.


2 de set. de 2008

A Argentina quer jogar duro com o Brasil

Cedo pela manhã ouço esta manchete nos telejornais. Lá vem mais uma aprontada dos “hermanos”, pensei. Não dei muita bola, mas durante o dia era só o que circulava pela internet. Resolvi ir mais a fundo e vi que o presidente portenho esta muito, mas muito chateado com o Brasil. Razões não lhe faltavam.

Os brasileiros entraram na Argentina e compraram suas maiores empresas. Compramos a maior cervejaria, a maior companhia de petróleo privada, a maior produtora de cimento e outras. Vejo nisto um certo sentimento de inferioridade, pois se compramos a maior deles, é porque a nossa maior era maior que a deles. Isto me lembrou aquela história dos adolescentes que ficam discutindo quem tem o órgão sexual maior. Preocupam-se tanto com o tamanho por que ainda não descobriram pra que serve, mas tudo bem, não é só isto.

O Néstor ta brabo, até fazendo beicinho, porque o Brasil quer todos as cadeiras em organismos internacionais, quer na ONU, na FAO, na OMC e falam os maldosos que até de termos um candidato a Papa o Néstor reclamou.Vão mais longe e dizem que ele não foi ao enterro de Sua Santidade porque o Lula foi. Talvez tenha ficado intimidado com a presença portentosa do nosso aerolula. Mas nós sabemos que não é bem assim. Não ficava bem o Lula oferecer carona pro Néstor.

O Néstor não é tão mesquinho assim. Ele esta apenas tentando jogar com a opinião pública portenha. A situação doméstica dos hermanos não esta boa. Deram um calote na comunidade financeira mundial. No inicio do século XX a Argentina detinha 50% da riqueza da América do Sul, agora só tem 8%, os caras tem motivo pra se sentirem inferiorizados. A Condoleesa veio ao Brasil e não visitou as terras do prata, não quer papo com caloteiros. O tio Sam disse que só se interessa por líderes, que aqui pelas bandas do Sul o líder é o Brasil e ponto final.

Seguindo a linha do tempo da ditadura, quando entrou em guerra com a Inglaterra para que os hermanos se esquecessem da pindaíba interna, quando eles tomaram o maior pau da história, o Néstor ta procurando um bode expiatório. O que conseguiram com as Malvinas? Nada. Perderam a auto-estima, além das perdas materiais e das vidas dos coitados que morreram. Agora o Néstor quer recriar uma Malvinas diplomática.
Para piorar a situação a comunidade européia publicou seu novo mapa onde aparecem as Malvinas, ou melhor Falklands como sendo território europeu. Dizem que o Nestor perdeu toda a elegância que ainda lhe restava: como os europeus puderam fazer isto com a Argentina? Oras a Argentina também é européia, ou os europeus se esqueceram disto?!

O Néstor disse que não vai perdoar. Os brasileiros e os europeus vão se arrepender. Vai devolver o status europeu para os portenhos. Para começar mandou construir uma catedral como a famosa Notre-Dame de Paris, inclusive com direito a quasimodo tocando o sino, tal qual o corcunda se tornou personagem de fama mundial pela obra de Vitor Hugo. Os portenhos tem direito a ter o seu. Como havia um impasse sobre quem seria nomeado quasimodo, estavam indecisos entre o Dieguito Maradona e o Carlito Teves, foram consultar o poderoso Néstor para que ele decidisse. Furioso da vida e aos berros sentenciou, aquela cadeira é minha, está ninguém me tira! O Dieguito e o Carlitos que se virem como gárgulas, bradou um irritado Néstor.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta

A Boneca

Boneca é brinquedo de menina e carrinho é brinquedo de menino! Assim fomos criados, e até hoje nossas crianças ainda assim são criadas. Não vemos mães ou pais entrando em lojas e comprando bonecas para os seus filhos homens, ou carrinhos para suas filhas mulheres, não, isso não. Quando crianças, era assim que nos divertíamos, os meninos brincando com carrinhos e as meninas com boneca. O máximo que nos era permitido, eram as brincadeiras de médico, quando meninos e meninas se encontravam, mas esse ainda é um assunto meio proibido, os meninos – hoje crescidinhos – até gostam de contar com certa vantagem suas primeiras aventuras no mundo da pseudo-medicina. Já por outro lado, as meninas não gostam muito de contar que se submeteram, com certa complacência, as investidas nada cientificas dos falsos médicos.

Pois bem, a vida passa, mas continuamos sendo eternas crianças. Os meninos substituem os seus carrinhos de brinquedo por belos carros, mas não aderem às bonecas. As meninas, por sua vez, preservam suas bonecas, mas aderem aos belos carros dos meninos. E, não é que dia desses uma boneca teve participação especial em nossa aula de mestrado. Em uma série de eventos programados e alguns não programados uma boneca, dessas de brinquedo foi levada para a sala de aula. O objetivo era brindar aqueles alunos que com suas contribuições, mais atrapalhassem que ajudassem o desenvolvimento da disciplina, com a guarda da bonequinha. Foi uma brincadeira que as meninas não tiveram chance. A boneca foi ferozmente disputada momento a momento por marmanjões. Em determinadas situações chegou a ser comovente ver a candura com que alguns marmanjos dispensavam seus carinhos para com o pequeno objeto, que de objeto de diversão passou a ser objeto de desejo. Em alguns rostos conseguia-se visualizar um certo ar de decepção quando a guarda da pequena lhes era negada. Por outro lado, aqueles que a recebiam não conseguiam disfarçar o ar de felicidade.

Em determinado momento a disputa ficou tão feroz que a dona do pequeno mimo se viu diante da situação de perdê-la, para mãos rudes, não treinadas na arte de bem tratar pequenas bonecas de porcelana. Alias, esse é outro detalhe que pude constatar. Um leve e profundo ar de frustração que certos meninões ostentavam em seus semblantes, como que lamentando a infância perdida, pois a falta da uma boneca em suas vidas, agora revelava uma infância desgraçada, medonha, que foi escondida, subjugada por de frotas de carrinhos, quando a verdadeira felicidade estava na eterna esperança de ganhar uma linda e meiga bonequinha. Algo que nunca aconteceu. Os natais vieram e se foram, os aniversários idem, na páscoa nem uma bonequinha de chocolate, que talvez fosse devorada com uma volúpia desmedida, ou então preservada eternamente, jamais saberemos. Nunca até aquele maravilhoso dia, quando na frente de todos podiam expor toda a sua alegria, mesmo que efêmera, mas verdadeira. Foi um momento mágico, que ficará eternamente marcado em nossa caminhada. De minha parte, recordei maravilhosos momentos de minha infância. Não que eu brincasse de boneca, quanto aos carrinhos, bem esses eram poucos, e mesmo assim foram a minha companhia. Agora o que eu não perdia mesmo era uma oportunidade de brincar de médico, bastava ter uma paciente. Dessa forma confesso que a oportunidade de voltar aos primórdios de minha existência pela via da medicina sem compromisso me atrai. Por isso enquanto os marmanjos disputavam quase que a tapa a tal da boneca, me bateu uma tremenda melancolia misturada com uma enorme frustração. Meu Deus, que vontade louca de brincar de médico!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta
2007

A conquista

Dia desses uma colega, do mestrado, me enviou uma historinha que envolvia macacos, escadas e bananas, uma historinha bastante interessante, divertida e ao mesmo tempo profunda, o que me conduziu a fazer uma analogia com um alpinista naquilo que se refere à conquista e as quase conquista, que são na verdade fracassos, ou não, depende. Não que a pratica de desafiar as alturas alguma vez tenha despertado meu interesse, mas a aventura em si me fascina. Para escrever esse texto eu escolhi um alpinista específico, aquele que vislumbra uma bela e misteriosa montanha, cuja glória da conquista se torna um grande desafio passando-lhe a fazer companhia constante, em uma instigante e intrigante relação de atração e desejo, um verdadeiro jogo de conquista. Mas falta algo, a consciência do alpinista sobre a sua capacidade de conquista, a diferença entre o querer e o obter.

Ele sabe que a conquista da montanha, só se concretiza com o que é chamado – pelos iniciados – de ataque ao cume ou, ataque final ao cume. Porém quando o grande momento se aproxima, estando bem perto do clímax, da tão sonhada e desejada conquista ele se vê forçado a desistir e tem que retornar, o ataque final não vai se concretizar, a conquista não vai acontecer, nesse momento ele tomou consciência da sua incapacidade, pois a montanha estava além, transcendia ao seu desejo.
Tudo estava tão perto, já podia sentir o prazer que lhe aguardava. O momento que tinha fantasiado tantas vezes não se concretizou, pois ele foi forçado a parar, teve que recuar. Condicionantes que ele não controla serviram de impedimento. Enquanto contemplava a beleza de seus contornos e a maciez da neve que a revestia, tal qual um lindo tecido cobrindo um corpo feminino, e o desejo da conquista o absorvia cada vez mais, um lampejo de lucidez o trouxe de volta a realidade. “Acorda, não é pra ti! O que pensas seu atrevido?” Como a força de um trovão, essa mensagem lhe atingiu profundamente, e fez efeito.

Toda a preparação feita, todos os equipamentos de que dispõem, todo o caminho percorrido (que o levou tão perto), os desafios que teve que superar, dias e dias de estudos, de observação, os avanços, os recuos estratégicos, os precipícios que teve que vencer, os paredões inespugnáveis que suplantou, as negativas, nada disso tem valor, nada conta, o que vale é ataque final, mas esse, esse ele é incapaz de completar, não é para ele!

Alguns desavisados dirão: pobre alpinista deixou a montanha para outros, mais destemidos, que com certeza irão conquistá-la, pois ela assim o merece e assim há de ser. Para o nosso alpinista isso não interessa. Ele é experiente e sabe reconhecer a importância escondida por trás de uma não conquista. As questões não se resumem a esta simples dualidade entre conquista e não conquista, existe um algo mais, que se materializa e se manifesta somente entre ele e a montanha. Algo exclusivo, portanto inatingível para a tosca percepção do público, elevados a condição de meros espectadores.

Por outro lado permanece com nosso alpinista uma eterna fascinação, um constante desejo de ter algo que fisicamente e aos olhos estava e está tão perto, mas que a prática mostrou ser inatingível, inalcançável, o prazer proibido, representado pela frustração do fracasso em que se converteu o ataque final, que sequer foi tentado. Com sua experiência ele sabe que quando uma decisão pode trazer mais prejuízos que as glórias da vitória, é o momento em que se exige a grandiosidade da retirada estratégica. É neste momento que uma vitória de Pirro é perfeitamente dispensável e dever ser evitada a todo custo.

Ele sabe que algumas conquistas por mais fascinantes, misteriosas, belas e perigosas que possam ser, jamais deverão ser alcançadas. O que não tira delas o charme, o interesse, o fascínio, a sedução. Ao contrário, tudo isso é alimentado diariamente.

E, assim a vida continua seu curso normal, com alpinistas, montanhas e conquistas e as não conquistas, também. Lembrando sempre que se algum macaquinho desavisado tentar alcançar uma banana “proibida”, terá sempre uma turma de outros macaquinhos prontos a lhe aplicar uma calorosa surra. Vida complicada essa!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Peota
2006

A iniciação cientifica

As complexidades das vicissitudes que envolvem certas atividades apresentam uma terminologia própria, somente revelada aos iniciados, fato que permite uma identificação restrita ao grupo específico. Assim também acontece com a iniciação cientifica.

Ao iniciar o mestrado fomos apresentados a certas disciplinas que nos levaram a um momento solene de inflexão, cuja imprevisibilidade objetivava trazer a tona, explicitar, uma construção detalhada e rigorosa, para em um processo de confronto permitir a redescoberta não de um novo saber, mas sim permitir um novo desenho, traçando uma linha temporal que alastrando-se por fatores subjacentes nos permitirá ser reconhecidos pelo grupo. Simplificando, é o momento de afastar os curiosos, abrindo as portas do clube somente aos iniciados. Sim, deveríamos passar por um processo de iniciação, um ritual, tal qual as mais primitivas tribos impõem aos seus, cuja finalidade é separar os homens dos meninos. Não uma iniciação com a crueldade desmedida da escarificação total da pele dos homens crocodilos na África, ou a solidão da caça ao tubarão nas Polinésias, ou ainda a desinteligência do solto de plataforma, apenas preso aos calcanhares por frágeis cordas de ratam, feito por tribos da Melanésia, ou quem sabe os segredos que envolvem a iniciação maçônica, mas com certeza exige de cada um de nós a mesma coragem e persistência, exigida em cada uma das situações anteriores. Como nos seria revelado, logo ficamos sabendo que não passaríamos impunes por ela.

Os primeiros impactos já pudemos sentir quando da apresentação de algumas disciplinas, cujas siglas permitem interpretações dúbias. As disciplinas tradicionais foram deixadas, ou melhor, incorporadas por outras mais complexas, em um novo desenho interdisciplinar. TDR I foi entendida, por muitos, como Terror Da Revelação I, que por si só seria um aperitivo para Terror Da Revelação II. Por sua vez, Organização do Espaço se mostrou ao mesmo tempo complexa e reveladora. Porém, quem ficou encarregado da verdadeira iniciação foi Pesquisa Aplicada ao Desenvolvimento Regional I – PADR-I, para alguns simplesmente Perdidos Aleatoriamente Dentro da Revelação I.

Passados os momentos iniciais pudemos constatar que as coisas não eram tão terríveis assim, éramos atores importantes em busca de uma realidade objetiva, estávamos sendo colocados em confronto com a imprevisibilidade, em um processo de grandiloqüência que se alastrava, horas percorrendo o caminho da ortodoxia, horas fugindo para a heterodoxia, dependendo do ponto vista analisado, ou seja, se a nossa leitura era com base nos princípios da verificação do positivismo lógico, ou no principio da falsificação do racionalismo critico ou ainda sob a luzes do paradigma no historicismo. Apesar de todo o nosso esforço empírico para encontrarmos a porta dos fundos da ciência em construção, a inacabada, a dialética não nos deixava, em um processo que envolvia síntese e antítese carregadas de imprevisibilidades, que nos forçava a inúmeras articulações, e até mesmo a negação, dentro de uma escolha narrativa que nos levaria, ou deveria nos levar, dentro de uma linha interpretativa, a uma nova redescoberta. Espero ter tido sucesso na construção de pequeno resumo explicativo e tudo tenha ficado bem esclarecido.

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta
2005

A loira do outdoor

Todo os dias quando eu passo lá esta ela, imóvel, sempre na mesma posição, mas tem algo que marca sua presença, que chama a atenção dos transeuntes. Não se trata do olhar marcante e o volumoso cabelo loiro que realçam o seu corpo maravilhoso. Ela simplesmente veste apenas uma deliciosa lingerie branca. Não importa o dia, nem a hora, esta é a sua única vestimenta. Fascina-me a sua nudez, nudez não mostrada, escondida, não por folhas como a de Eva depois do pecado, a sua precede, convida ao pecado, é pura sedução. Uma deusa em lingerie. Foge do padrão de beleza que se estabeleceu para aquelas do top internacional. Ou seja, nossa jovem tem atrativos, tem predicados, tem o que mostrar.

Sua beleza é para isto mesmo, para ser mostrada, revelada, realçada e não ficar escondida sob a materialização das mais estranhas fantasias de um estilista qualquer. Assim nós pobres mortais é que podemos fantasiar. Ao se decidir por mostrar quão generosa a natureza foi com ela, o fez com uma naturalidade estonteante e um requinte de crueldade a toda prova. Sim cruel, pois sua sedução maltrata, é um convite para o imaginário, talvez inatingível, com certeza desejado. Acessórios pretos complementam o quadro, onde uma sensual lingerie branca é o diferencial.

O branco e o preto se completam em uma perfeita harmonia de contrastes, tendo por pano de fundo, uma formidável escultura, que nem os mais renomados mestres do renascimento florentino conseguiram revelar. Não bebo da mesma fonte poética de Vinicius, mas ela bem que merece ser eternizada em verso e prosa, porém, a minha incompetência é intransponível abismo, triste frustração. Estática, conduz até mesmo o mais desavisado a se perder em um mundo sem fim da imaginação, onde a sedução ganha forma e vida, pois ela fala, ou melhor, sussurra aos nossos ouvidos. O que me disse não posso revelar.

Não precisa ser um adolescente imberbe e cheio de espinhas, os mais maduros, os resolvidos, os “coroas” ou tios, como dizem nossos adolescentes, sempre dão uma olhadinha e um suspiro, com toda certeza, também, os avós. Se a intenção foi simplesmente provocar, acertaram em cheio. Mas, se foi para divulgar a marca, foram de uma competência sem igual, pois agora, muitos marmanjos estão comentando a loira de branco da D Basic Darling. Os mais íntimos, ou mais afoitos falam apenas da loira da Darling. Alguns nem notam que ela esta segurando o salto alto de uma bota de couro preto, objeto que tem uma das mais altas cotações entre todos os fetiches masculinos.

Não interessa o seu nome, idade, ocupação ou qualquer outra informação, basta a sua imagem. Ao admirá-la, me vem no coração uma tristeza imensa, não por mim, mas por figuras do porte de um Donatelo, um Michelangelo, um Leonardo e um Rafael, os quatro grandes do renascimento, que nunca em sua mais louca imaginação puderam contar com tão espetacular modelo, que com apenas duas maravilhosas peças que ousam esconder sua nudez, revelou uma obra-prima do bom gosto. Que os quatro morram de inveja, eu de minha parte vou seguindo a vida apreciando e me deliciando com as obras-primas de outro tipo de arte, a arte da sedução. Bem dita sejas tu, maravilhosa lingerie! Bem dita sejam as mulheres que com apenas o básico ousam no dia-a-dia, maravilhosas!

Paulo Roberto Bornhofen
Escritor e Poeta
2005